fotos e abobrinhas sobre a nossa viagem.

e tias: lhes amamos de verdade!

sábado, 14 de agosto de 2010

obrigada.




ontem ela partiu quando ninguém observava, silenciosa e discretamente, e hoje fizemos aquilo que costumam chamar de última despedida. uns se emocionaram, outros reclamaram a perda - outros, ainda, compreenderam que tratava-se apenas de uma passagem e mantiveram a serenidade, postergando a tristeza (saudades) para um momento mais tranquilo.

lembro que quando eu era pequena a tinha como exemplo. sempre muito honesta, trabalhadora, disciplinada - ia bem na faculdade e não me deixava roer as unhas (mal hábito que mantenho até hoje, infelizmente). ouvia as reclamações do pai e sempre que podia, calava, para não machucar ainda mais o coração sofrido da mãe (este especialmente maltratado pela perda precoce de um filho bastante jovem).

na juventude (ou assim me lembro) foi um pouco pragmática, pontual - talvez as adversidades todas, as dores e mágoas despertadas por uma vida tão dura emocionalmente.

aí ela conheceu um cara bacana e casou. teve o primeiro filho, um menino lindo e esperto - e então, tudo começou a mudar. a doçura que fora tímida por muito tempo começou a aflorar, e com o instinto materno uma força gigantesca também nasceu. veio o segundo filho e a tranqüilidade de que era capaz; a sensação de que por amor a um filho pode-se tudo.

sonhou, viajou, educou, realizou.

mas com o outono atingindo seu auge, bem no meio do mês de maio, ao lado do marido ela descobriu que a doença silenciosa, aquela que invade e ousa ameaçar a vida da gente, passara a ameaçar sua também. os médicos avisaram que era complicado, que a cura viria somente por um milagre: mas ela lutou. e lutamos com ela cada dia, com os remédios, com a alimentação e com amor, com muito amor. mas infelizmente, como fora anunciado outrora, seu corpo não resistiu, e ela o deixou para voltar à casa verdadeira, àquela onde todos nós habitamos um dia e para qual ainda voltaremos.

e hoje me resta agradecer a você e a Deus, pela chance que eu tive de estar ao seu lado, de poder observar, aprender, amadurecer. observei a vida inteira, mas posso garantir que nestas últimas semanas aprendi muito mais que em todos os outros anos, e só me resta agradecer, encarecidamente, cada palavra, cada olhar. obrigada pelo amor, pela compreensão, pelo empenho e mais que tudo, por me ensinar que é preciso viver um dia de cada vez, intensamente. que dar o melhor de mim a cada instante evita frustrações, que pela tentativa se aprende e que planejar, pode ser algo tranqüilo. sei que não há necessidade de prometer nada, mas quero que saiba que com a sua ajuda, vivo cada um dos meus dias com mais verdade porque me dei conta de que a vida é efêmera estando ao seu lado - e por mais que eu pensasse saber que é preciso viver um dia de cada vez (nem o passado nem o próximo), foi com você que eu aprendi a exercitar.

eu te amo, e espero que você possa estar tranqüila, que possa seguir seu caminho em paz, em harmonia com o universo. as vezes eu sentirei saudades, mas elas serão serenas, tal como foram teus últimos sorrisos, iluminados. e espero poder ver-te novamente.

obrigada. para sempre: obrigada.

com amor,
fernanda.

2 comentários:

  1. puxa... perdemos nossa tia mais brava! quantas vezes ela também me chamou a atenção por roer as unhas (ainda continuo roendo tbm, habito feio =/) e quando entrávamos no carro com MUITO desodorante e ela começava a espirrar? tinha razao mesmo, desodorantes fedidos do tipo aqueles do paraguai que meu pai trazia rs pelo menos agora uso uns desodorantes melhorzinhos rs

    mesmo em sua partida nos ensinou muito e poucos falariam o que ela falou!

    saudades das "broncas" e de assistir filme e depois jogar "stop"

    abraços,
    Diogo

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